19.9.10

29.8.10


adolescência tardia..

parece que depois de certa idade não produzimos mais memórias. é tudo uma lembrança, carregada da mesma efemeridade do presente. disse, outro, que a capacidade de traduzir acontecimentos em experiências é, também hoje, comprometida; como se as próprias experiências fossem esvaziadas.
a espontaneidade, então, que carregávamos com maior vigor na infância, parece um analgésico para certos encontros – muito breves – que temos com nós mesmos entre uma brecha ou outra em nossa rotina. mas, é claro, além de analgésico também um possível entorpecente.




24.11.09

sentia o ar pesado
em seu peito,
traía-se em
sua falta de destreza --
quase um ator
em sua tristeza calada,
em sua ausência.

era sincero consigo
no limite do que sabia,
mas,
talvez,
existisse uma única,
simples,
resposta para
sua pequena agonia.

na verdade,
queria que ela soubesse,
do tanto que era
íntimo,
aquilo que ele, o tempo todo,
dividia.

e suas tantas coisas,
para ele mesmo,
significavam.

23.7.09

necessidade de estar acompanhado
de ter algum conforto entre tantas palavras soltas
cotidianas

necessidade de presença
de ter por perto alguém
alguns
que nem por perto, realmente, estejam

falar ou ouvir
sabendo que estas palavras se pronunciam
sempre querendo dizer cuidado

e longe das afinindades
da intimidade
das particularidades

incodicionalmente,
sem ter o amor
como desculpa.

30.6.09

fiquei ali, diante dela, enquanto o portão era fechado.
dali, até a porta, foram quatro vezes que levantou a palma da mão, com os dedinhos bem estendidos e separados, e a chacoalhou.
assim, espontaneamente.

esperei que entrasse e saí,
pensando naquela mãozinha
naquele sorriso dado..

neste perceber e perceber,
todos os dias,
as mesmas singularidades.

10.5.09

a dor que sentia em seu rosto e em seu braço
não era sentida no corpo.

3.4.09

se encontram em um esquina,
úmida penumbra;
ela com um punhal,
ele com uma navalha.


trêmulos e ofegantes,
determinados,
olhos e olhos molhados
se fixavam,
atravessando-se friamente.

quase não havia mais culpa
e os sentimentos estavam no
suor quente que unia a mão
à vontade própria.

e assim estiveram por horas,
esperando
íntima e desesperadamente
pelo início de tantas lembranças --
por cada detalhe imenso
que fora menosprezado pelo
comum.


ao longe
se ouviu
o som do metal sobre o
chão:
cada lembrança,
então,
eram lágrimas.
...

25.3.09

há algum tempo
sou eu
um pouco mais calado;

algo menos infantil,
algo mais dócil.
..

(iludido
agora,
logo não serei mais
o dono de minhas vontades)

8.3.09

pensava no tempo que passou,
em tantas coisas que haviam mudado.

e olhava-a
enquanto ela dormia um sono seu,
dividindo com ela,
em silêncio,
aqueles tantos detalhes acumulados.

quis abraçá-la, mas conteve-se:
estava calor e, talvez, não era uma boa idéia.

17.2.09

certa vez a viu pálida, com o olhar pesado em lágrimas, pedindo silenciosamente por algum conforto.
e lhe doeu profundamente ter a visto tão vulnerável, como se houvesse entre eles uma distância que os tornavam estranhos -- nada que ele pudesse fazer.
só ele sabia o quando dela havia sua vida, o quanto cada bela manhã de sol era encontrá-la.

e ao vê-la, pálida, distante,
morria sob o peso daquele silêncio.

definhava
sob tudo o que não conseguira ser;
sob tudo aquilo que a facilidade não lhe permitiu.

sob o quanto era ela,
longe,
maior que qualquer bela manhã de sol.

14.2.09

a fome era tamanha que acabou comendo o amigo.

(este morreu amigavelmente).

2.2.09

no caminho de volta pra casa
deu atenção a cada mísero detalhe
daquele chão humidecido.

não pensava mais
e o bonito das luzes sobre o asfalto molhado
era somente um golpe frio
que suavemente o fazia ainda mais distante.

era,
como se não houvesse lembranças.

30.12.08

talvez,
queria um pouco da atenção.
queria fazer para ela uma serenata,
mas o pai era bravo e,
por conta disso, ela não ia gostar muito.

Então, logo que as luzes apagaram,
passou em frente da casa
assoviando a música que havia "composto" pra ela.

silêncio na rua,
acho que ninguém ouviu.
lhe pesava, profundamente,
aquele sentir sozinho;
aquele fim de pretender,
de pretender-se,
que não lhe permitia levantar os olhos e nunca poderia ser dividido com outra pessoa.
Era irredutivelmente seu.

Então, ruminava o sentimento sabendo que mesmo o ato mais desesperado nunca seria visto como a última tentativa,
mas como o equívoco final de tantos que precederam.

sabia que a ignorância era sua, também.

27.11.08

ridículo,

cantando baixo, com os olhos em lágrimas,
acabou se cortando na garrafa que atirara ao muro.
já ouvi que o sentimento é aquilo que garante sentido ao viver
e que tudo o que é leve o vento leva.
não era só a aflição em vê-la
fragilizada,
com aquele olhar profundo, sempre a procurar,
vertendo-se em lágrimas num desamparo
que nunca existiu.

era também
saber que eu só existiria naquele momento,
como em tantos outros momento lembrados,
e que as expectativas disfarçam-se
sob um presente exato de circunstâncias.

21.10.08

Poniendo la mano sobre el corazón
quisiera decirte, al compás de un son,
que tú eres mi vida,

que no quiero a nadie,
que respiro el aire, que respiro el aire
que respiras tú.

Amor de mis amores,
alma de mi alma,
regálame las flores de la esperanza,
permite que ponga en tus labios
toda dulce verdad que tienen mis dolores
para decirte que tú eres el amor de mis amores.

permite que ponga en tus labios
toda dulce verdad que tienen mis dolores..


para decirte
que tú eres
el amor de mis amores.


(à Jaqueline, que amo tanto)

2.10.08

"E a minh'alma dessa sombra que no chão há de mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!"

(The Raven; Poe; Pessoa)

1.9.08

jurava
que a professora
falava algo
sobre o qual
ele sabia
a respeito.

(mal ela sabia
)

21.8.08

de frente para trás
passou a admitir o ritmo; sua vida ao avesso.
passou a sentir suas displicências,
sua ignorância.

depois de velho
(vinte e tantos)
calou-se.
todos os momentos se tornaram muito voláteis;
pesava-lhe cada lembrança.

(via as pessoas falando e preferia pensar que todas haviam nascido há pouco tempo)

acreditou a felicidade uma grande bobagem.

morreu feliz.
coisa que nunca sentira, passou a ter saudades da infância.

18.8.08

no sofá em branco e preto
seu olhar atravessava os móveis
os comodos
as casas

na verdade, não olhava

comia a si, vagarosamente.

11.7.08

Ele cortava as unhas dos pés:
calça jeans, sem camiseta
sentado na cama.

Ela o olhava da sacada
tomando seu suco,
ao sol.
e pensava
no quanto o amava
com ou sem tatuagem.

11.4.08

dar-se aos sóis de si
mesmo;
à uma pequena quantidade de luz,
ao que contém
certa medida de um cheiro,
de uma memória opaca
de um quarto antigo desenhado
em pouca claridade.

sobretudo, o silêncio.

13.12.07

na esquina da biblioteca munipal, ele atravessa a rua e vem me estendendo a mão com meio
sorriso no rosto: -- posso te acompanhar?.
nos sentamos em um banco e passamos toda a tarde ali, eu em silêncio, ele em palavras soltas e
resmungadas.
não havia o que fazer, não havia o que olhar. as pessoas eram -- são -- as mesmas de todos os
mesmos dias. olhares em si mesmos, brilho em nostalgias de uma pátria morta ou um
desencanto fantasiado de alegria. são velhos e novos os mesmos sonhos.
eu não conhecia aquele tal Heynes. nem seus olhos negros, nem seus poucos cabelos, tão pouco
seu meio sorriso ou seu forte aperto de mão. talvez fosse um homem, por trás de um crachá.
Nunca vou saber.